quarta-feira, 10 de junho de 2020

Você sabe o que é Racismo? – Relato de uma Professora de Literatura em Aula de Acesso Remoto

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. Você sabe o que é racismo? Isso mesmo, início a minha fala engasgada chamando você para a reflexão. O que se entende por racismo?

Provavelmente na sua cabeça irão passar frases clichês e que atualmente servem de hastags para as redes sociais, mas vai muito mais, além disso, garanto.

Certo, mas aí você se questiona: “O que isso tem a ver com um blog sobre educação?” — Vou te responder, mas antes quero contar uma história.

Sou professora de Literatura do ensino regular básico e dentro da minha disciplina falamos muito sobre muitas coisas... amores, aventuras, comédia... e sempre foram aulas incríveis, até chegarmos no realismo. Ah! O realismo.... a escola literária que presentou o mundo com Machado de Assis que era NEGRO! Sim, negro. Neto de ex- escravos. Mas ao citar essa informação na sala ouvi de um aluno a seguinte pergunta: “Professora, por que nunca dizem que ele era negro?” e eu respondo com convicção “Por ser negro e no Brasil. Ser negro para alguns é sinônimo de crime”.

Pronto, estava feita a balburdia!

Não para os meus alunos, aliás, um salve a essa geração que não é alienada e sabe ouvir um debate, se colocar nesse debate e entender a realidade do país.

O problema não são os alunos e sim seus pais. Talvez por ingenuidade nem me dei conta de que a aula é remota, virtual e em casa, e que muitos pais assistem as aulas como verdadeiros sensores de conteúdos (ALERTA DE IRONIA: não que esteja me referindo a outros tempos, já tive problema demais por uma aula), mas a verdade é que a preocupação não é se o filho vai entender o problema de matemática ou se sabe quantos continentes tem no planeta (que tem esse nome apesar de não ser plana).

A preocupação é com as “ideologias”. Sim! Os pais não querem “professores ideológicos” como se esses existissem, mas isso é outra discussão. Voltando ao fato, falei a frase citada acima e segui minha aula. Para minha surpresa sou chamada para uma “reunião” para tratar de um “assunto delicado”. Penso — “Deve ser as provas que ainda não terminei a correção ou então o plano bimestral que ainda não entreguei” — mas para minha surpresa ouço:

— “Professora, como à senhora fala de racismo, e principalmente, no momento que estamos vivendo?” — Paro, respiro e pergunto: — “Como?”. — Pronto, foi ladeira abaixo.

Chuva de pais ligaram para a escola para dizer que eu “A professora de Literatura” não estava dando aula de Literatura e que estava “induzindo os meninos num pensamento errado e que tava chamando todo policial de “assassino de negro” e mais um “monte de coisa”.

A única coisa que conseguia dizer era que tinha dito que Machado de Assis era negro e que não se admitia isso, pois ainda vivemos em um regime escravocrata onde ser negro é crime e que policial matava negro e isso era mostrado pelos dados do governo. — Cavei minha sepultura, o crime foi confirmado!

— “Professora, mas o que isso tem a ver com sua matéria?”

— Gente, o que isso tem a ver com o mundo? Somos professores, independente de disciplina os assuntos estão aí, esses alunos, os mesmos que me perguntam por que não dizem que Machado de Assis é negro, são os alunos que não tem pais em casa para dizer ou conversar sobre racismo. São os alunos que se não ouvirem que racismo mata, vão cometer racismo “velado” e uso entre aspas porque francamente não acredito que racismo seja velado. O racismo está aí escancarado para quem quiser ver, praticar e sentir. Quer dizer, sentir só se você for preto.

Ouvi que não era mais para tratar desse assunto em sala, os pais disseram que “até que eu ensino bem”, mas não posso “manchar” meu nome com essas coisas pequenas. “São crianças, não tem maturidade para esses assuntos”. — Eu disse que era uma turma de terceiro ano médio? Pois é!

Terminamos a reunião e “até ouvi elogios” de que sou muito pontual, sei me expressar e que tenho muito conhecimento. Desligamos da reunião e olhei para o espelho do meu quarto e vi uma pele negra, olhos marejados e coração destruído.

Agora retomo a pergunta do início do texto, você sabe o que é racismo?  

 

Professora de Literatura, autora do relato não pode se identificar
Em sua homenagem colocamos este sorriso no rosto de quem sabe que faz a diferença na sala de aula!

terça-feira, 9 de junho de 2020

Dica: Nuvem de Palavras!

No processo de Pandemia do Covid-19, o Isolamento Social e o distanciamento da sala de aula presencial, me conduziu à buscar metodologias e orientações de como trabalhar por meio do Acesso Remoto, tornando o conteúdo compreensível e a aula dinâmica. 

Ter acesso a equipamentos, tecnologias e ao mundo virtual nada adianta se não fizermos destes instrumentos possibilidades de caminhos. O equipamento por si só é um veículo que necessita de comando. Somos nós, professores. Sou eu, professora, que posso, por meio deles, fazer a diferença. 

Dentre tantas possibilidades encontradas ao longo destes estudos e pesquisas, encontrei a Plataforma WordCloud.com 

O que faz essa plataforma? 


Bem, ela permite criar nuvem de palavras usando várias formas e imagens. É um site gratuito e permite salvar as nuvens criadas em PNG, PDF e SVG.

De maneira muito simples a plataforma nos permite inserir várias palavras ou um texto, e a partir deste, gerar uma nuvem de palavras.

Elaborada por Márcia de Albuquerque Alves, 2020
Elaborada pela Profa. Márcia de Albuquerque Alves, João Pessoa, 2020

Baseada nas palavras acima descritas, utilizando a plataforma, criei como exemplo ilustrativo esta nuvem de palavras. Na plataforma, menu "File", optei pelo item "Paste/Type Text". Na caixa que se abre coloquei o texto acima e cliquei em "Apply". Ele gerou então esta nuvem. No menu "Shape" escolhi o formato de troféu. E no menu "Colors" escolhi este fundo preto e as palavras nestes tons e cores. Ao final, gerei o arquivo clicando "File" => "Save as image". 

A nuvem pode ser usada como atividade para os alunos e alunas ou como recurso didático para aula.

Pode ser utilizada da Educação Básica à Superior, em Palestras, Conferências, workshop, entre outros.

Como podemos utilizar a nuvem de palavras como recurso didático em nossas aulas? 


Inúmeras são as possibilidades, mas iniciar um conteúdo com uma nuvem de palavras pode promover uma integração interessante. Inicialmente, podemos pedir que os alunos e alunas observem todas as palavras, leiam e escolham uma que mais chamou sua atenção. Dialogando com as palavras escolhidas, podemos solicitar que formem uma rede de conexão. Encontrem palavras que se conectam diretamente. E posteriormente, solicitamos a formação de um um conceito a partir destas palavras. 

A partir de então, pela nuvem de palavras, podemos, apenas com ela, promover uma aula inteira, uma vez que as palavras são palavras-chaves relacionadas ao conteúdo a ser estudado. 

A nuvem de palavras nos permitem criar mapas mentais. Segundo Campos & Daros (2018, p. 81) "Os mapas mentais procuram representar, com o máximo de detalhes possível, a relação conceitual existente entre informações que normalmente estão fragmentadas, difusas e pulverizadas em textos curtos ou longos". Desta forma, as nuvens podem nos auxiliar na construção dos mapas, uma vez que são importantes na "memorização de conteúdos e no registro de assuntos compreendidos em forma de resumos que sistematizam o entendimento da matéria e na compreensão do conteúdo".

Espero que gostem da dica!

Referência:

CAMARGO, Fausto; DAROS, Thuinie. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado. Porto Alegre: Penso, 2018.


Márcia de Albuquerque Alves 
Mestra em História - PPGH/UFPB
Professora do Ensino Superior
Centro Universitário UNIESP

segunda-feira, 1 de junho de 2020

As dificuldades do professor durante a Pandemia


Sou pedagoga, professora da Educação Infantil e fundamental na rede pública. A sala de aula, aquela experiência, o contato com as crianças é a melhor sensação que existe. 
Eles precisam do nosso abraço e do aconchego que só o professor sabe dar. 

Imagem da autora

Porém nesses tempos de CORONAVÍRUS tudo precisou ser mudado, e me peguei fazendo várias interrogações. Será que vou conseguir me adaptar a essas aulas remotas? E as crianças vão gostar? Como elas irão reagir? Entre muitas outras indagações. Para mim não foi e nem está sendo fácil, pois sempre tive muita dificuldade até de tirar uma foto, imagine gravar vídeos diários e fazer aulas online, tudo isso de forma lúdica e dinâmica?! Nesse momento percebi a importância de me reinventar, principalmente quanto à tecnologia. Dedicamo-nos muito a conteúdos específicos e a prática diária, e acabamos por esquecer que vivemos a Revolução Tecnológica, e isso exige de nós uma imensa atualização. 

Trabalho em duas escolas, uma pública e uma particular, e acreditem, são dois mundos completamente diferentes. Em uma tudo é mais simples, todos têm acesso à internet, computador, tablet ou celular. Na outra, muitos nem se quer têm um celular. Então me peguei pensando, o que vou fazer para que esses alunos tenham acesso a algum conteúdo? Entrei em contato com os pais, alguns se interessaram em pelo menos mantermos contato pelo whatsapp, outros não, o que é totalmente compreensível na realidade deles, pois eles estão preocupados em levar o alimento para casa, não estão com cabeça para estar assistindo vídeos e tampouco fazendo atividades, então envio algumas atividades para a escola e os pais vão lá e pegam. Tenho muitos alunos que só tinham uma alimentação por dia, e era na escola, e mesmo diante da situação que estamos vivendo, a escola ainda abre em um horário para que essas crianças possam se alimentar. 

De repente nos pegamos nessa situação, falo por mim, não está sendo fácil. É muito cansativo, faço tudo que posso para que os conteúdos e as atividades sejam suficientes para que eles possam de alguma forma ter subsídio para construção de conhecimento, mas fico muito preocupada porque sei que meus alunos precisam muito de mim, do meu auxílio. Esse ano aceitei ficar com uma turma de 3° ano do ensino fundamental menor com 32 alunos, e acredite só duas crianças sabem ler. Depois da avaliação diagnóstica e de verificar tal situação tinha feito vários planos e projetos para conseguir alfabetizá-los e estava realizando a tarefa com êxito, e quando menos esperávamos acontece tudo isso. Em minha opinião essas aulas remotas não ajudam muito, é apenas um auxílio, principalmente no caso dos meus alunos que nem ler sabem, e seus pais também não sabem, muitos recorrem a vizinhos ou aos irmãos para ajudá-los nas atividades. 

Escolhemos esta profissão por amor, por acreditar na sua função social. No entanto, ser professor no Brasil é um desafio que precisamos vencer todos os dias. Amamos ensinar, amamos nossos alunos e ficamos realizados com suas conquistas. Tudo que planejamos é para seu crescimento pessoal e intelectual. Acredito que quando tudo isso passar nós também vamos dar mais valor a nossa rotina, que apesar de cansativa é muito gratificante. Durante esse tempo estou buscando novos cursos e novas possibilidades para me atualizar, buscando sempre o melhor para meus alunos. 

Maria Andresa Félix da Silva 
Pedagoga 
Cursando Especialização em Psicopedagogia 
Professora da Educação infantil e Ensino fundamental I da Rede pública e privada


domingo, 24 de maio de 2020

PANDEMIA DO COVID-19 E ENSINO: QUE NOVOS TEMPOS SÃO ESSE?

Imagem disponível no Google

Atuo no ensino básico, como professora de História, especificamente com o ensino médio, desde 2015. Ensinar é um desafio diário e na busca de possibilitar um ensino dinâmico, sempre foi mencionado a necessidade da utilização dos recursos tecnológicos, mas nunca imaginei que chegaríamos a um tempo em que nos tornaríamos dependentes desses recursos para ministrar nossas aulas (acredito que ninguém também tenha imaginado tal coisa...).

E que tempos são esses? Nós, historiadoras (e historiadores), temos dificuldades em analisar contextos históricos nos quais estamos inseridos, pois não sabemos qual será o “desfecho” dessa pandemia que tem assolado o Brasil (nem sei se verei esse desfecho...). É mais fácil descrever nossa experiência diária a que fomos impostos em consequência da propagação desse vírus que pode ser letal e que já transformou nosso país o epicentro do covid-19 na América do Sul.

Sou professora da rede pública Estadual da Paraíba, em uma das Escolas Cidadãs Integrais da cidade que resido – Bayeux/PB. Faz um mês que iniciamos as aulas na modalidade remota – à distância. Nós, professoras e professores, tivemos apenas uma semana de um curso virtual para aprender a utilizar a plataforma onde ocorrem as aulas. Uma maratona de vídeo aulas para assistir, aprender e responder as atividades propostas pelo professor virtual. Além disso, tivemos que elaborar os planos estratégicos (planejamento das aulas com eixos temáticos, solicitados pela secretaria, que deveriam ser abordados) – e assim surgiu o “Home office”, termo estrangeiro para denominar o trabalho em casa (não sei para que isso, deve ser para parecer chic...mas acho que é baixa autoestima mesmo...essa mania que brasileiro tem de valorizar o que é de fora!).

Desde então, em consequência da necessidade do confinamento, a estratégia utilizada para dar continuidade a rotina escolar foi o ensino remoto. Mas, uma semana para preparação das professoras e professores para essa modalidade não foi suficiente e na, realidade, estamos aprendendo a se adaptar a partir da prática. Isso não tem sido fácil para professoras/es e para os alunos/as que também tem dificuldades em manusear a plataforma, sem contar com os alunos/as que não tem acesso à internet.

Outro agravante inserido nesse processo é o tal do “home office”. Ambiente doméstico não é adequado para se trabalhar, sobretudo para as mulheres, que são responsabilizadas pela manutenção da limpeza da casa, de preparar as refeições, do cuidado com os filhos e filhas (e do companheiro, muitas vezes, inclusive!). Nós ouvimos muitos homens reclamarem de estarem entediados em casa ou que estão de “bobeira”, mas das mulheres escutamos seu desabafo de estarem sobrecarregadas e, em consequência disso, muitas destinam o horário da noite, quando estão exaustas, para o “home office”.

Dessa forma, estamos vivenciando um novo tempo em que somos obrigadas/os a aprender a manusear os recursos tecnológicos, planejar aulas adequadas e interessantes para essa modalidade de ensino e fazer da nossa residência o local de trabalho. Tudo isso é muito desafiador e requer um tempo para adaptação. A pandemia do covid-19 nos impôs isso. Mas, estamos seguindo, e enquanto isso não passa, colocamos um sorriso no rosto, fazemos uma selfie e postamos nas redes sociais #homeoffice...e a vida continua...


Solange Mouzinho
Graduada e Mestra em História - UFPB
Professora da Educação Básica
Militante e Feminista

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Experiências e reflexões sobre a prática docente durante o isolamento social


Imagem disponível no Google

Bom, diante de tantos desafios educacionais, políticos e sociais que estamos passando, por onde começar?
Eu sou Fernanda, consultora educacional na Paraíba de uma editora, na qual atuo em um projeto de uso das tecnologias na educação. Imaginem essa atuação durante a conjuntura atual!
Se antes a tecnologia era um complemento na Educação Básica – muitas vezes pouco utilizada em sala de aula – hoje ela se torna basilar. Sem as plataformas e ferramentas virtuais, as instituições de ensino estariam de mãos atadas para a continuidade do ano letivo.
Além da profissão atual, sou ex-professora de história de uma escola particular – se é que existe esse “ex-professora”. Nesse caso, consigo analisar os dois lados da moeda: o lado da professora sem formação específica para esse momento, bastante angustiada com a enxurrada de desafios e cobranças para sua prática docente; e, ainda, o lado da consultora educacional em tecnologia que incentiva esse ensino mais dinâmico na era digital e a maior autonomia docente no uso dessas ferramentas, principalmente agora!
O que posso compartilhar a partir dessa conjuntura atual é que o trabalho redobrou ou até triplicou, assim como a maioria dos atores sociais da educação. Estou apoiando e dando suporte pedagógico às coordenações e docentes de diversas escolas particulares paraibanas, de João Pessoa até São José de Piranhas.
Faço formações online sobre o uso dessas tecnologias, crio tutoriais didáticos, auxilio nas dúvidas via whatsapp, sistematizo estratégias de organização do trabalho docente, alinho ações junto à coordenação, entre outros. No geral, todos sentimos e partilhamos das mesmas coisas: insegurança, muitos desafios, cansaço físico e mental, mas também muita vontade de fazer dar certo.
Muitos dos(as) docentes, por exemplo, não têm domínio básico de tecnologia e agora são desafiados(as) a ministrarem e gravarem aulas online, dominarem plataformas digitais para atividades, lidar com a cobrança da escola e dos pais nesse momento conturbado, entre outros desafios. Tudo isso me faz pensar a situação da educação pública e como a conjuntura deve ser ainda mais complexa como menos apoio e instrumentos necessários (como normalmente é).
Já no meu dia-dia, ouço de modo recorrente desabafos como: “Fernanda, não consigo entrar na plataforma, estou desesperada”; “Já tentei de tudo e não consigo compartilhar minhas aulas. Por favor, me ajude”; “Meu acesso está com problemas, já desliguei, reiniciei e não abre”; “Não consigo inserir as atividades, estou perdendo noites de sono pela angústia”; e em tom de brincadeira, “Depois dessas aulas vamos precisar de um cardiologista”.  Um dia desses um pai do aluno invadiu uma aula online e criticou a professora em relação à organização da agenda virtual na frente de todos os alunos e sem razão, pois nem ele mesmo dominava a plataforma estando confuso com as informações.
Acredito que precisamos ter muita sabedoria e calma nesse momento. Tudo é novo, desafiador e “fora da caixinha” para todos. Estamos aprendendo dentro do processo e reafirmo a necessidade de maior empatia (termo muito usado atualmente no discurso e pouco na prática).
Em resumo, nesses primeiros meses, refleti muitos sobre diversos aspectos: que formação e valorização docente estamos proporcionando para os professores e professoras lidarem com todos esses desafios? Que empatia estamos desenvolvendo em relação aos profissionais da educação nessa nova fase? Será que educação está obtendo um foco apenas transmissor de conteúdo sem preocupação com a formação real dos estudantes? Até que ponto esse contexto dificulta o acesso democrático ao conhecimento, tendo em vista o maior acesso das escolas particulares?
São tempos difíceis, de ressignificações, de reflexões e também de novas práticas. Nosso olhar está atento a essas mudanças que são relevantes para repensarmos muitos aspectos, incluindo nosso modelo de educação e sociedade.

Fernanda Gomides

Sou Fernanda Gomides, consultora educacional da Editora Moderna na Paraíba, formada em Licenciatura em História pela UFPB e Doutoranda em Educação na linha de Políticas Educacionais (PPGE/UFPB). Tenho experiência como professora de História da Educação Básica, assim como Professora Substituta no Centro de Educação da UFPB, na Educação de Jovens e Adultos pelo PROJOVEM e como formadora de professores da EJA do município de João Pessoa.

domingo, 17 de maio de 2020

Os desafios da "matemática nas aulas de Acesso Remoto. Entrevista com a Professora Sandra Maria Diniz Silva

Seu nome completo, formação e experiência:

Sandra Maria Diniz Silva, licenciada em matemática pela UFCG (2016) e especialista em Ensino da Matemática pela Faveni (2018). Participei de programa de educação tutorial (PET – matemática) durante a universidade e diversos eventos acadêmicos. Atuei como chefe de sala na aplicação do Enem nos anos de 2013, 2014, 2015 e 2016, e como certificadora do exame em 2017, 2018 e 2019. Em 2017 fui nomeada como professora, por meio de concurso público, no estado de Pernambuco lecionando na cidade de Camutanga na Escola de Referência em Ensino Médio Pedro Tavares e atualmente sou professora do estado da Paraíba, também por meio de concurso público, nomeada neste ano de 2020, lecionando na Escola Integral Cidadã Teonas da Cunha Cavalcanti. Diante do cenário que nos encontramos nesta pandemia, fui contratada como bolsista, por meio de seleção, para atuar como tutora do curso de ensino em regime especial à distância oferecido pela SEECT- PB em parceria com a PbTec.

Com essa nova realidade advinda do Isolamento social, quarentena... como foi para você o processo de mudança do ensino presencial ao acesso remoto?

Sem dúvidas, um grande desafio! Como muitos especialistas da área afirmam, nada substitui a presença física do professor na sala de aula com os estudantes. Não sinto muita dificuldade com ensino remoto, porém traz um distanciamento entre o professor e os estudantes. Sem falar no grande trabalho de preparar atividades de fácil compreensão, uma vez que não estamos perto para sanar as dúvidas.

Você já tinha habilidade com informática e as tecnologias digitais, e utilizava em sua atividade escolar, como?

Já sim, sempre fui a favor e amante da tecnologia em minhas aulas apesar das várias dificuldades encontradas na caminhada. Na maioria das vezes, utilizo slides em data show para expor conteúdo, atividades, vídeos, assim como softwares que auxiliam nas diversas explicações que muitas vezes não alcançamos sem essa ajuda.

Como  está sendo a experiência de "ensinar matemática" sem o contato presencial?

Como já dizia Lorenzato (2006), os materiais não ensinam sozinho nem substitui o professor. As ferramentas tecnologias são extremamente úteis neste cenário mas sinto muita falta da acessibilidade de todos os estudantes e isso se torna um desafio muito grande em se tratando de despertar o interesse dos estudantes nesta disciplina que é tão temida.

Acho necessário um contato presencial para fixar melhor a aprendizagem.

Quais são as estratégias utilizadas neste novo formato para trabalhar com ciência exata?

Tento ao máximo diferenciar as atividades, disponibilizo vídeos, testes virtuais, atividades de pesquisa com apresentações virtuais, atividades manuais como confecção de materiais, dentre outros.

Quais plataformas você usa?

Atualmente estou utilizando o GoogleClassrom devido a parceria com a SEECT- Pb.

Quais são as suas maiores dificuldades?

Preparar atividades que sejam de fácil compreensão aos estudantes e ao mesmo tempo se adeque aos eixos propostos pela secretaria de educação. Despertar o interesse do estudante que está na sua residência, muitas vezes sem recursos ou espaço para realizar essas atividades.

Quantas horas você trabalhava antes e quantas horas você trabalha hoje?

Como leciono em Escola Cidadã Integral, a jornada de trabalho permanece a mesma de 40h na semana ou 8h no dia. Sem falar, que os estudantes querem tirar dúvidas a qualquer hora do dia.

Você está conseguindo conciliar trabalho e vida pessoal? 

Sim, evito trabalhar nos finais de semana como já fazia antes. Mas durante a semana trabalho como se fosse na escola.

Quais são as maiores dificuldades dos seus alunos?

Acessar a plataforma, pois não tinham - em sua maioria - experiência, e entender a atividade proposta mesmo diante de todas as explicações contidas nela.

Quais são as vantagens e desvantagens do acesso remoto?

As vantagens é que os estudantes podem realizar atividades em casa, deixando o ócio de lado e mantendo o vínculo com a escola.

As desvantagens são que nem todos tem acesso a ferramentas tecnológicas, então precisam se deslocar até a escola para receber o material impresso e realizar a atividade sem auxílio do professor.

Além disso, nós professores temos que nos desdobrar para preparar atividades diferenciadas que despertem o interesse do estudante, sem saber quais condições eles apresentam em casa para realizarem as mesmas e sem poder exigir deles por isso.


quinta-feira, 14 de maio de 2020

Ensinar é.... uma arte!




Lembro-me das tirinhas que sempre iniciavam com “Amar é...”, e isto me fez intitular este texto com "Ensinar é... uma arte". Sempre achei que ensinar era um dom, tal qual cantar, tocar, desenhar. A formação, obviamente, é imprescindível. Porém de nada adiantam títulos na mão se não tiver o dom, este a meu ver, sinônimo de amar a profissão.

Minha vocação para a profissão começou a ser descoberta por volta de 2005, quando comecei a dar aulas de reforço para ensino fundamental e médio. Mas meu curso de contabilidade me levava para outros ares, o mercado, que também foi engrandecedor para os meus caminhos serem levados à docência. Mas apenas em 2016, tive a oportunidade de ingressar no nível superior, sendo ao mesmo tempo estudante (no mestrado) e professora (em universidade pública e privada).

Foi, então, que descobri mais uma razão pela qual eu amava ensinar. Era por poder estudar e aprender a todo momento. Ser professora é estar em constante mudança. É se atualizar e buscar experiências novas. Uma novidade que nunca imaginei passar foi estar diante de câmeras, gravando vídeo-aulas para as minhas turmas ou ministrando por meio de vídeo conferências.

Isto me fez perceber que, de fato, ensinar é...uma arte. Se adaptar a um contexto totalmente diferente, ser bombardeada por informações múltiplas de como melhorar a disseminação do conhecimento por meio de aulas remotas. Aprender várias ferramentas tecnológicas em um curtíssimo espaço de tempo, no mesmo momento em que, por outro lado, lidamos com a pandemia da Covid-19. Além, é claro, de todas as outras atribuições que o professor é incumbido de exercer. Tudo muito novo.

A princípio, o único pensamento é: como conseguirei fazer? Após isto, vem o pensamento de: o que é ser professor? É estar sempre aprendendo. Então, a vontade de aprender mais e mais sobre aplicativos para disponibilização de aulas foi tomando todo o meu ser, e comecei a viver isto. O que foi e tem sido a terapia para enfrentamento deste momento triste que estamos vivendo. Ocupar a cabeça com o que gostamos de fazer é o melhor remédio para a saúde mental.

Sobretudo, nesta época, importante também foi reforçar o sentimento da empatia. Quantos julgamentos surgem, com as mais variadas opiniões, sobre quais as melhores formas que deveriam ser feitas as aulas, sobre a paralisação, sobre as diminuições de mensalidade para as instituições privadas. De outra parte, quantas pessoas perdendo seus entes queridos, seus empregos, diminuindo suas rendas. Além de, diante da desigualdade social, quantas pessoas não tem o devido acesso aos meios tecnológicos básicos para o acompanhamento de seus estudos. Tudo isso leva a cada indivíduo tentar se colocar no lugar do outro, para que, na medida do possível, tudo se encaixe.

Sendo assim, o papel do professor é, também, o de proporcionar a sintonia entre os alunos, de modo que atue como um psicopedagogo, compreendendo as diversas situações particulares de cada pessoa. O que, neste momento, vai além do aprendizado do conteúdo do curso.

O futuro incerto de voltarmos a realidade, tal qual era antes da pandemia, faz com que os pensamentos, por vezes, sejam voltados para tristeza e desesperança. Então cabe a nós, professores, buscarmos na nossa arte de ensinar, o discernimento para enfrentarmos todos esses obstáculos de crise, agravados pela pandemia da Covid-19.

E disso tudo, estamos tirando algumas lições. Que de nada adianta apenas riquezas materiais. De nada adianta o corre-corre diário. De nada adianta trabalhar para ficarmos exaustos, se não temos tempo necessário de estarmos juntos de quem amamos. O principal na vida é fazermos o que amamos e estarmos perto de quem amamos.

Além disso, aprendemos a dar valor as coisas mais simples, a agradecer por nos encontrarmos com familiares, amigos e colegas de profissão. Aprendemos a dar valor a nossa liberdade de podermos ir a um supermercado, a uma farmácia, a abastecer o carro. Estamos aprendendo o valor da vida. E também aprendemos a refletir sobre o valor da vida. É importante pararmos um pouco, freando a nossa aceleração em busca de algo que achamos que é a felicidade, quando, na verdade, a felicidade está nos momentos mais simples.

Assim é um grande desafio este momento que estamos passando na nossa vida pessoal, como também profissional. E para nós, professores, devemos continuar exercendo a nossa arte de ensinar.


Carla Janaina Ferreira Nobre
Graduada, Mestre e Doutoranda em Ciências Contábeis
Especialista em Gestão e Auditoria Pública
Professora de Ensino Superior Privado

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O século XXI chegou à escola!



Durante a preparação para o retorno às aulas de uma das escolas que faço parte ouvi a seguinte frase que me chamou muito a atenção “O século XXI chegou à escola”. No primeiro momento não soube muito bem a dimensão que essa frase tinha, talvez por ansiedade ou por medo.  Mas fato é que na última semana me peguei refletindo bastante sobre essa questão.

Entre um slide e outro ou nos intervalos do plantão de dúvidas e mais um milhão de coisas que estou tendo que dar conta me dei conta de que sim, a escola mudou. Antes ela tinha endereço fixo, hoje está em todos os lugares, literalmente. Antes a pesquisa em bibliotecas correspondia a corredores gigantescos e exaustivas leituras, agora está a um clik. O que antes era domínio privado torna-se público! Sim a escola mudou. E consequentemente a professora também. Antes estávamos às voltas com livros, cadernos, lápis piloto, agora... Bom, conferir e-mails e abrir reuniões nas mais diversas plataformas se tornou o novo “fazer pedagógico”.

Tanta mudança, mas a questão é: como lidar com elas? Falo por mim, não tem sido nada fácil. Muito pelo contrário, tem sido cansativo e estressante, mas em meio a todos esses sentimentos também tenho alegrias. Decidi ser professora pelo encantamento que tinha pelo aprender. Nunca nenhuma outra atividade me encantou tanto como "aprender algo novo", mas por que trago esse fato agora? Porque é exatamente o amor pelo aprender que tem feito as angústias muitas vezes darem lugar a tranquilidade e o medo do novo dá lugar a alegria das novidades. Sim! Mesmo com um cenário tão estranho e tão inseguro que estamos vivendo, ainda assim a atividade de aprender não nos é negada. Posso dizer que tenho aprendido mais nos últimos 15 dias do que nos últimos 7 anos de sala de aula.

Mas ser professor é isso. Acredito que ficamos tanto tempo pensando em ensinar que esquecemos como se aprende. Estamos tão habituados a passar conteúdo que por alguns instantes esquecemos de copiar a matéria. Sim, ser professor é antes de tudo ser aluno! E o século XXI nos trouxe essa oportunidade. A oportunidade de aprendermos mais sobre práticas pedagógicas, sobre novas formas de dar aula, sobre ser uma professora que está dentro de uma nova escola. Não quero com isso dizer que não fico preocupada ou maluca com tanta coisa para fazer ou com tanta novidade. Também tenho meus dias de "Bug do milênio”. Mas são nesses dias que tento fazer a análise do quanto eu aprendi e do quanto evolui.

A escola mudou, o aluno mudou, a educação mudou. Agora estamos aqui sendo convidados a vivenciar um novo momento na educação. Quando tudo isso passar não seremos os mesmos professores. Estaremos mais ousados. O século XXI chegou à escola, estou me preparando para ela, nunca gostei de chegar atrasada nas aulas.

Klênia Pereira
Graduada em Letras
Professora de Português da Educação Básica

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Desafios de uma tia, aprendendo e reaprendendo


Modelo de cartão-de-visita | Vetor Premium

Sou Pedagoga, Especialista em Educação Infantil, Professora da Educação Infantil e Fundamental Menor com experiência há mais de 20 anos. Escolhi esta profissão por ser a que eu gostava, desejava. Nunca fui muito adepta do uso da tecnologia, a não ser quando fosse um recurso necessário.

A educação infantil e fundamental menor requer a experiência do toque, do olhar, das sensações, educamos para além do “formal”. Tratamos da educação intelectual e emocional da criança. Atuamos com aprendizados que estimulam os sentidos. Trabalhamos o percorrer das letras e o equilíbrio do corpo. Nosso trabalho é efetivamente uma base, um preparo inicial. E nesta dinâmica, nos percebemos de um dia para o outro, enquanto um profissional que precisava se reinventar totalmente. Nossos estudos, nossos teóricos, aprendizados e experiências precisavam nos dar um suporte. Tudo que era tão manual precisava invadir outro universo, o virtual. Precisávamos estar juntos, mesmo que distante.

Neste contexto, de um dia para o outro precisei entender que a minha sala de aula seria de manhã o Classroom/Meet e a tarde o Teams. O que é isso? Foi minha primeira pergunta e também a pergunta deles. “Bem é nossa sala de aula. Um espaço virtual que vai nos unir. Eu agora vou estar na sua casa e você vai estar na minha. E todos nós vamos nos ver e aprender muito juntos”. Foi assim minha primeira conversa comigo e com eles, com as crianças.

Comecei a estudar, bem mais do que antes. Precisei aprender as ferramentas, a linguagem e como funcionava. Precisei aprender outras metodologias e contei/conto com ajuda de muitos(as) amigas e amigos. Percebi que o Covid-19 nos afastou e nos uniu. De repente, vi crescer uma rede imensa de solidariedade, principalmente, entre professores (as) e famílias.

Depois de estudar, pensar, formular... percebi que precisava inserir o meu contexto de sala de aula neste universo, considerando duas grandes questões: a qualidade do ensino precisa ser a mesma ou melhor; e a adequação das metodologias e ferramentas para o nível de idade e aprendizado das crianças. Então, comecei a planejar minhas aulas. Tudo precisava ser muito lúdico. Na sala de aula presencial nós tínhamos os “combinados”, nossas regras para a aula acontecer. Bem, adaptei. Então, fiz umas plaquinhas com símbolos explicando nossas regrinhas, como deixar a garrafinha de água perto, desligar o microfone enquanto a tia falar, ligar o microfone quando a tia pedir, antes de começar a aula lavar as mãos e deixar o material escolar perto. Todos os dias são testes. Aprendendo o que funciona ou não. Tento manter a interatividade com eles. Converso, peço para vê-los. Peço que me mostrem o que estão fazendo, mostrem as atividades. Não diferente da sala, chamo cada um pelo nome, pergunto as novidades e como estão se sentindo.

Mantemos, eu e eles o nosso calendário. Todos os dias, marcamos a data do dia da semana, conversamos sobre o dia. Todos têm participado e buscamos aprender e nos divertir. Percebi que é importante não deixar que eles fiquem parados muito tempo. Então, as atividades estão sendo pensadas para que eles se levantem, se movimentem, que busquem objetos pela casa com atividades/brincadeiras quanto ao conteúdo, tal como, aprendendo o som das letras. Peço que identifiquem um objeto da casa que inicia com a letra, que traga e apresente aos colegas. Com isso, eles identificam o objeto, relacionam o alfabeto, escrevem a palavra, desenham a palavra e brincam com os colegas. Tenho percebido que é importante a interação, o uso de música, vídeos e jogos. Agora tudo muito curto, uma vez que o foco é menor.

Em uma das escolas, ficamos juntos duas horas com intervalo de meia hora. E na outra escola trabalhamos direto uma hora. As crianças estão respondendo as atividades e os pais são os parceiros, essenciais na ajuda das atividades, filmam, fotografam, além de interagir diretamente com os filhos na aula.

Os obstáculos são imensos e todos os dias temos novos desafios, mas sinto que estamos aprendendo muito, estamos mais solidários e mais cuidadosos uns com os outros. Estamos aprendendo o valor de uma coisa muito simples, estamos aprendendo a importância de estar perto e o valor do “toque”.

Sayonara Mirley
Graduada em Pedagogia
Especialista em Educação Infantil
Professora da Educação Fundamental Menor

terça-feira, 5 de maio de 2020

para além do Acesso Remoto, Quem somos?

Hoje são 02 de maio de um ano que nem sequer começou direito, do ano de 2020. São tantas questões que se colocam para refletir e pensar neste momento, mas pra começar, precisávamos escolher uma. E chegamos à conclusão, a educação para além do acesso remoto. 

Não precisava ser professora para saber todos, ou quase todos os problemas que existem referentes ao sistema educacional em nosso país, principalmente agora, nesse momento tão delicado. Acredito que ninguém da minha geração imaginou viver uma “pandemia planetária”. E essa ideia de falar sobre isso não surgiu porque estamos em casa confinadas, apenas colocando a conversa em dia por redes sociais, pelo contrário, surgiu por estarmos imersas a uma gama de afazeres e demandas de trabalho, talvez nunca antes experenciados por muitos e muitas de nós, pelo menos nessa composição do Acesso Remoto, e em outros casos, a Educação a Distancia (EAD).

Com a pandemia do Covid-19 várias discussões vieram à tona, dentre elas, dúvidas e anseios. Os órgãos competentes ligados à educação começaram a articular toda uma logística sobre o que deve ou pode ser utilizado nos seguimentos educacionais. Estas discussões levantam questões muito pertinentes, tais como o uso da EAD para suprir as aulas presenciais. Qual é a grande questão? A grande questão é: todas as pessoas (crianças, jovens e adultos) possuem condições, acesso a internet e meios digitais? Esta alternativa supre as diversas necessidades ou todas as demandas que a educação exige? Será que de alguma forma, não estamos, mais uma vez, delimitando quem pode ou não pode ter acesso? Ou isso é reflexo de uma desigualdade social eminente no nosso país que a pandemia evidenciou ainda mais? Essas e muitas outras questões de extrema relevância se tornam urgentes na pauta da educação, sendo mais comprovadas nesse momento, e não poderia ser diferente, por todos os fatores que conhecemos. 

A metodologia do Ensino a Distância é uma possibilidade e um caminho, e embora seja eficiente, não tivemos tempo de aprender e nos preparar. A EaD representa a inovação, a tecnologia e o acesso à Educação. Desde sua origem foi criada com a finalidade de dar acesso. No entanto, nossa realidade social não é assim estruturada, e a adaptação precisava ter sido pensada e analisada com cuidado, mas não tivemos tempo. As exigências foram impostas e essa preocupação legítima pode ser mais agravada pela “Guerra” Ideológica e cultural instaurada mesmo antes da pandemia, tornando-se agora um grande pavio de pólvora.

E além de tudo isso, os “bastidores” desse cenário não são pontuados. Trata-se do “ser humano e suas fragilidades”, discentes e docentes vivenciam de forma mais efetiva e afetiva suas emoções, tristezas, preocupações, inseguranças, ansiedades, entre outros sentimentos que estão à flor da pele. Não, não estou falando mais de preparar material, conhecer plataforma, estudar estratégia, estudar o conteúdo, formular questões... Não, não são estas funções que me refiro agora. Estou falando do oficio da professora enquanto “lugar de paz”, espaço de “escuta”. 

Para além de todo o cenário retratado, agora no final de abril começamos a atender ligações e receber mensagens revelando uma nova estatística do governo, a que vem com nomenclatura. Os números se tornaram nomes. São mães, pais, filhas, filhos, tias, tios, avós, avôs, amigas, amigos... Agora, no final de abril, percebemos que no exercício da nossa função não chegávamos apenas na casa dos (as) nossos (as) alunos (as). Não mais víamos “só” os detalhes da casa ou conhecíamos a família, agora entramos na categoria de quem conforta, de quem escuta, de quem se configura de esperança, de quem se transforma em confiança... Nossa função agora se reveste de humanidade. 

Esse exercício de compartilhar, de doar e de construir conhecimento, mesmo já fazendo parte da rotina dos professores e professoras, agora se amplia em um processo muito maior e muito mais humanizado. Nosso olhar se expande a cada ausência na tela do computador. E não é diferente das tecnologias que estamos aprendendo a usar, estamos aprendendo quem somos por dentro. Estamos aprendendo de maneira intensiva sobre o “outro”, sobre “respeito”, sobre “dores”, sobre esse “amor tão desmedido”, na verdade nem sabemos explicar muito bem. 

Nossa função de construir conhecimento se ampliou para além do acesso remoto. Estamos experenciando filosofias estudadas uma vida inteira. Testando teorias e entendendo que muito mais amplo que nosso conhecimento teórico e prático de formação é a nossa capacidade de “olhar” o outro. Não me refiro a “ver”, me refiro a olhar. Olhar com cuidado, olhar com respeito, olhar com solidariedade. Nossa função agora se transformou em um exercício constante de aprendizado. Estamos aprendendo sobre limites, controle, respeito e companheirismo. Estamos enfim, aprendendo muito mais sobre pessoas. Essas questões muitas vezes ficam perdidas ou despercebidas na correria constante dos nossos dias, mediante a grande demanda de atribuições, e na Educação, seja pública ou privada, ensino básico ou superior, não é diferente. 

E o futuro? Não fazemos ideia do que será o futuro. Sabemos que iremos enfrentar o trauma Pós-Covid-19. Ninguém colocou na agenda de 2020 tamanha excepcionalidade ou se preparou para enfrentar esse caos que o mundo vivencia. Lidamos com a incerteza de tudo, com a fragilidade e os medos. São tantas particularidades para poucas prioridades que a professora de história sai do tangível e mergulha no intangível, se tornando a “linha de frente”, que mesmo se sentindo impotente cuida da fragilidade do outro. Ressalto que esta não é uma práxis que encontramos em livros ou artigos acadêmicos, nem para isso estávamos preparadas, por isso a intenção não foi de produzir um texto com citações de teóricos e pesquisadores da educação e áreas afins, mas expressar o que estamos vivendo, sentindo e percebendo em nós, professoras e no outro, nossos (as) alunos(as) e suas famílias. É no espaço de trabalho, no ambiente educacional, que todas as fragilidades sociais em suas mais diversas faces, desaguam, e como em curso contrário, grita e implora para voltar ao seu fluxo natural. E quem somos nós? Somos apenas, professoras, para além do Acesso Remoto. 

Cinthia Cecília de Lima
Graduada em História e Especialista em História da Paraíba
Professora de História da Educação Básica
Presidente da ONG Memória Viva
Membro com conselho Municipal de Educação

Márcia de Albuquerque  Alves
Graduada, Especialista e Mestra em História
Professora do Ensino Superior Privado 
Membro da Academia Paraibana de Letras, 
Ciências e Artes do Vale do Mamanguape - ALCA

Você sabe o que é Racismo? – Relato de uma Professora de Literatura em Aula de Acesso Remoto

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. Você sabe o que é racismo? Isso mesmo, início a minha fala en...