Lembro-me das tirinhas que sempre iniciavam com
“Amar é...”, e isto me fez intitular este texto com "Ensinar é... uma
arte". Sempre achei que ensinar era um dom, tal qual cantar, tocar,
desenhar. A formação, obviamente, é imprescindível. Porém de nada adiantam
títulos na mão se não tiver o dom, este a meu ver, sinônimo de amar a
profissão.
Minha vocação para a profissão começou a ser
descoberta por volta de 2005, quando comecei a dar aulas de reforço para ensino
fundamental e médio. Mas meu curso de contabilidade me levava para outros ares,
o mercado, que também foi engrandecedor para os meus caminhos serem levados à
docência. Mas apenas em 2016, tive a oportunidade de ingressar no nível
superior, sendo ao mesmo tempo estudante (no mestrado) e professora (em
universidade pública e privada).
Foi, então, que descobri mais uma razão pela qual
eu amava ensinar. Era por poder estudar e aprender a todo momento. Ser professora
é estar em constante mudança. É se atualizar e buscar experiências novas. Uma
novidade que nunca imaginei passar foi estar diante de câmeras, gravando
vídeo-aulas para as minhas turmas ou ministrando por meio de vídeo
conferências.
Isto me fez perceber que, de fato, ensinar é...uma
arte. Se adaptar a um contexto totalmente diferente, ser bombardeada por
informações múltiplas de como melhorar a disseminação do conhecimento por meio
de aulas remotas. Aprender várias ferramentas tecnológicas em um curtíssimo
espaço de tempo, no mesmo momento em que, por outro lado, lidamos com a
pandemia da Covid-19. Além, é claro, de todas as outras atribuições que o
professor é incumbido de exercer. Tudo muito novo.
A princípio, o único pensamento é: como conseguirei
fazer? Após isto, vem o pensamento de: o que é ser professor? É estar sempre
aprendendo. Então, a vontade de aprender mais e mais sobre aplicativos para
disponibilização de aulas foi tomando todo o meu ser, e comecei a viver isto. O
que foi e tem sido a terapia para enfrentamento deste momento triste que
estamos vivendo. Ocupar a cabeça com o que gostamos de fazer é o melhor remédio
para a saúde mental.
Sobretudo, nesta época, importante também foi
reforçar o sentimento da empatia. Quantos julgamentos surgem, com as mais
variadas opiniões, sobre quais as melhores formas que deveriam ser feitas as
aulas, sobre a paralisação, sobre as diminuições de mensalidade para as
instituições privadas. De outra parte, quantas pessoas perdendo seus entes
queridos, seus empregos, diminuindo suas rendas. Além de, diante da
desigualdade social, quantas pessoas não tem o devido acesso aos meios
tecnológicos básicos para o acompanhamento de seus estudos. Tudo isso leva a
cada indivíduo tentar se colocar no lugar do outro, para que, na medida do
possível, tudo se encaixe.
Sendo assim, o papel do professor é, também, o de
proporcionar a sintonia entre os alunos, de modo que atue como um
psicopedagogo, compreendendo as diversas situações particulares de cada pessoa.
O que, neste momento, vai além do aprendizado do conteúdo do curso.
O futuro incerto de voltarmos a realidade, tal qual
era antes da pandemia, faz com que os pensamentos, por vezes, sejam voltados
para tristeza e desesperança. Então cabe a nós, professores, buscarmos na nossa
arte de ensinar, o discernimento para enfrentarmos todos esses obstáculos de
crise, agravados pela pandemia da Covid-19.
E disso tudo, estamos tirando algumas lições. Que
de nada adianta apenas riquezas materiais. De nada adianta o corre-corre diário.
De nada adianta trabalhar para ficarmos exaustos, se não temos tempo necessário
de estarmos juntos de quem amamos. O principal na vida é fazermos o que amamos
e estarmos perto de quem amamos.
Além disso, aprendemos a dar valor as coisas mais
simples, a agradecer por nos encontrarmos com familiares, amigos e colegas de
profissão. Aprendemos a dar valor a nossa liberdade de podermos ir a um
supermercado, a uma farmácia, a abastecer o carro. Estamos aprendendo o valor
da vida. E também aprendemos a refletir sobre o valor da vida. É importante
pararmos um pouco, freando a nossa aceleração em busca de algo que achamos que
é a felicidade, quando, na verdade, a felicidade está nos momentos mais
simples.
Assim é um grande desafio este momento que estamos passando
na nossa vida pessoal, como também profissional. E para nós, professores,
devemos continuar exercendo a nossa arte de ensinar.
Carla Janaina Ferreira
Nobre
Graduada, Mestre e Doutoranda em Ciências Contábeis
Especialista em Gestão e Auditoria Pública
Professora de Ensino Superior Privado