domingo, 24 de maio de 2020

PANDEMIA DO COVID-19 E ENSINO: QUE NOVOS TEMPOS SÃO ESSE?

Imagem disponível no Google

Atuo no ensino básico, como professora de História, especificamente com o ensino médio, desde 2015. Ensinar é um desafio diário e na busca de possibilitar um ensino dinâmico, sempre foi mencionado a necessidade da utilização dos recursos tecnológicos, mas nunca imaginei que chegaríamos a um tempo em que nos tornaríamos dependentes desses recursos para ministrar nossas aulas (acredito que ninguém também tenha imaginado tal coisa...).

E que tempos são esses? Nós, historiadoras (e historiadores), temos dificuldades em analisar contextos históricos nos quais estamos inseridos, pois não sabemos qual será o “desfecho” dessa pandemia que tem assolado o Brasil (nem sei se verei esse desfecho...). É mais fácil descrever nossa experiência diária a que fomos impostos em consequência da propagação desse vírus que pode ser letal e que já transformou nosso país o epicentro do covid-19 na América do Sul.

Sou professora da rede pública Estadual da Paraíba, em uma das Escolas Cidadãs Integrais da cidade que resido – Bayeux/PB. Faz um mês que iniciamos as aulas na modalidade remota – à distância. Nós, professoras e professores, tivemos apenas uma semana de um curso virtual para aprender a utilizar a plataforma onde ocorrem as aulas. Uma maratona de vídeo aulas para assistir, aprender e responder as atividades propostas pelo professor virtual. Além disso, tivemos que elaborar os planos estratégicos (planejamento das aulas com eixos temáticos, solicitados pela secretaria, que deveriam ser abordados) – e assim surgiu o “Home office”, termo estrangeiro para denominar o trabalho em casa (não sei para que isso, deve ser para parecer chic...mas acho que é baixa autoestima mesmo...essa mania que brasileiro tem de valorizar o que é de fora!).

Desde então, em consequência da necessidade do confinamento, a estratégia utilizada para dar continuidade a rotina escolar foi o ensino remoto. Mas, uma semana para preparação das professoras e professores para essa modalidade não foi suficiente e na, realidade, estamos aprendendo a se adaptar a partir da prática. Isso não tem sido fácil para professoras/es e para os alunos/as que também tem dificuldades em manusear a plataforma, sem contar com os alunos/as que não tem acesso à internet.

Outro agravante inserido nesse processo é o tal do “home office”. Ambiente doméstico não é adequado para se trabalhar, sobretudo para as mulheres, que são responsabilizadas pela manutenção da limpeza da casa, de preparar as refeições, do cuidado com os filhos e filhas (e do companheiro, muitas vezes, inclusive!). Nós ouvimos muitos homens reclamarem de estarem entediados em casa ou que estão de “bobeira”, mas das mulheres escutamos seu desabafo de estarem sobrecarregadas e, em consequência disso, muitas destinam o horário da noite, quando estão exaustas, para o “home office”.

Dessa forma, estamos vivenciando um novo tempo em que somos obrigadas/os a aprender a manusear os recursos tecnológicos, planejar aulas adequadas e interessantes para essa modalidade de ensino e fazer da nossa residência o local de trabalho. Tudo isso é muito desafiador e requer um tempo para adaptação. A pandemia do covid-19 nos impôs isso. Mas, estamos seguindo, e enquanto isso não passa, colocamos um sorriso no rosto, fazemos uma selfie e postamos nas redes sociais #homeoffice...e a vida continua...


Solange Mouzinho
Graduada e Mestra em História - UFPB
Professora da Educação Básica
Militante e Feminista

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