quinta-feira, 21 de maio de 2020

Experiências e reflexões sobre a prática docente durante o isolamento social


Imagem disponível no Google

Bom, diante de tantos desafios educacionais, políticos e sociais que estamos passando, por onde começar?
Eu sou Fernanda, consultora educacional na Paraíba de uma editora, na qual atuo em um projeto de uso das tecnologias na educação. Imaginem essa atuação durante a conjuntura atual!
Se antes a tecnologia era um complemento na Educação Básica – muitas vezes pouco utilizada em sala de aula – hoje ela se torna basilar. Sem as plataformas e ferramentas virtuais, as instituições de ensino estariam de mãos atadas para a continuidade do ano letivo.
Além da profissão atual, sou ex-professora de história de uma escola particular – se é que existe esse “ex-professora”. Nesse caso, consigo analisar os dois lados da moeda: o lado da professora sem formação específica para esse momento, bastante angustiada com a enxurrada de desafios e cobranças para sua prática docente; e, ainda, o lado da consultora educacional em tecnologia que incentiva esse ensino mais dinâmico na era digital e a maior autonomia docente no uso dessas ferramentas, principalmente agora!
O que posso compartilhar a partir dessa conjuntura atual é que o trabalho redobrou ou até triplicou, assim como a maioria dos atores sociais da educação. Estou apoiando e dando suporte pedagógico às coordenações e docentes de diversas escolas particulares paraibanas, de João Pessoa até São José de Piranhas.
Faço formações online sobre o uso dessas tecnologias, crio tutoriais didáticos, auxilio nas dúvidas via whatsapp, sistematizo estratégias de organização do trabalho docente, alinho ações junto à coordenação, entre outros. No geral, todos sentimos e partilhamos das mesmas coisas: insegurança, muitos desafios, cansaço físico e mental, mas também muita vontade de fazer dar certo.
Muitos dos(as) docentes, por exemplo, não têm domínio básico de tecnologia e agora são desafiados(as) a ministrarem e gravarem aulas online, dominarem plataformas digitais para atividades, lidar com a cobrança da escola e dos pais nesse momento conturbado, entre outros desafios. Tudo isso me faz pensar a situação da educação pública e como a conjuntura deve ser ainda mais complexa como menos apoio e instrumentos necessários (como normalmente é).
Já no meu dia-dia, ouço de modo recorrente desabafos como: “Fernanda, não consigo entrar na plataforma, estou desesperada”; “Já tentei de tudo e não consigo compartilhar minhas aulas. Por favor, me ajude”; “Meu acesso está com problemas, já desliguei, reiniciei e não abre”; “Não consigo inserir as atividades, estou perdendo noites de sono pela angústia”; e em tom de brincadeira, “Depois dessas aulas vamos precisar de um cardiologista”.  Um dia desses um pai do aluno invadiu uma aula online e criticou a professora em relação à organização da agenda virtual na frente de todos os alunos e sem razão, pois nem ele mesmo dominava a plataforma estando confuso com as informações.
Acredito que precisamos ter muita sabedoria e calma nesse momento. Tudo é novo, desafiador e “fora da caixinha” para todos. Estamos aprendendo dentro do processo e reafirmo a necessidade de maior empatia (termo muito usado atualmente no discurso e pouco na prática).
Em resumo, nesses primeiros meses, refleti muitos sobre diversos aspectos: que formação e valorização docente estamos proporcionando para os professores e professoras lidarem com todos esses desafios? Que empatia estamos desenvolvendo em relação aos profissionais da educação nessa nova fase? Será que educação está obtendo um foco apenas transmissor de conteúdo sem preocupação com a formação real dos estudantes? Até que ponto esse contexto dificulta o acesso democrático ao conhecimento, tendo em vista o maior acesso das escolas particulares?
São tempos difíceis, de ressignificações, de reflexões e também de novas práticas. Nosso olhar está atento a essas mudanças que são relevantes para repensarmos muitos aspectos, incluindo nosso modelo de educação e sociedade.

Fernanda Gomides

Sou Fernanda Gomides, consultora educacional da Editora Moderna na Paraíba, formada em Licenciatura em História pela UFPB e Doutoranda em Educação na linha de Políticas Educacionais (PPGE/UFPB). Tenho experiência como professora de História da Educação Básica, assim como Professora Substituta no Centro de Educação da UFPB, na Educação de Jovens e Adultos pelo PROJOVEM e como formadora de professores da EJA do município de João Pessoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você sabe o que é Racismo? – Relato de uma Professora de Literatura em Aula de Acesso Remoto

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. Você sabe o que é racismo? Isso mesmo, início a minha fala en...